Da ficção científica para a cadeia produtiva de suínos. Essa transição tecnológica, que acontece em alta velocidade, colocou a Inteligência Artificial de vez na atividade, e promovendo transformações altamente relevantes. A IA – a proximidade já permite chamá-la dessa forma – tem se mostrado uma poderosa caixa de ferramentas, pois contém o instrumental mais adequado para cada área do setor e para cada situação dentro de granjas e agroindústrias.
Melhor ainda, ela aprende constantemente com suas próprias tarefas, aprimorando cada aplicação. O processo ocorre a partir de uma ampla análise de dados, coletados por sensores inteligentes e processados pelos algoritmos, permitindo tomadas de decisão com mais precisão, agilidade e segurança.
Avanços em saúde e bem-estar
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O cuidado com a saúde dos animais evolui muito com o apoio da IA no que diz respeito à prevenção, abrangendo desde a detecção de indícios de doenças até a otimização da alimentação. A tecnologia possibilita intervenções preventivas que levam à redução do custo com tratamentos, inclusive com a diminuição do uso de antibióticos.
O monitoramento acontece por meio de sistemas de vigilância contínua treinados para identificar padrões e analisar nuances que, em muitos casos, são imperceptíveis ao olho humano. É uma observação inteligente, detalhista e incansável que analisa comportamentos, sons e indicadores fisiológicos 24 horas por dia, sete dias por semana. “É como ter centenas de especialistas monitorando cada animal o tempo todo”, afirma a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Joseane Padilha.
Para a especialista, é como se esses modelos imitassem nossa capacidade cerebral de aprender ao longo de toda a vida, mas em poucas horas. “A depender do potencial computacional, em minutos ou talvez segundos.” E são vários dispositivos interligados agindo simultaneamente.
Por meio de câmeras, pode-se detectar alterações sutis em movimentação, postura, comportamento em grupo, hábito alimentar, padrões de sono, frequência de visitas ao bebedouro, interações sociais e até expressões faciais que indiquem dor ou desconforto.
Sons como uma tosse são captados e analisados por microfones, e contribuem para a percepção de algum problema respiratório, enquanto um desconforto pode ser detectado a partir de um grunhido específico. “É impressionante como a IA consegue distinguir entre uma tosse normal e outra que indica o início de uma infecção”, comenta Joseane.
Há ainda sensores biométricos que monitoram temperatura, frequência cardíaca, padrão respiratório e demais parâmetros vitais, criando uma espécie de “prontuário digital” individual ou do rebanho como um todo.
O bem-estar animal também ganha com essa tecnologia, pois permite desenvolver modelos para acompanhar parâmetros ambientais (densidade populacional, temperatura, umidade e níveis de amônia) e sinalizar condições inadequadas. São alertas emitidos antes que ocorra desconforto ou estresse dos animais.
A essencial inteligência humana
Uma das maiores preocupações em relação ao avanço da Inteligência Artificial está no risco de a tecnologia tomar o lugar das pessoas. Diante dos resultados já apresentados, o temor é compreensível. No entanto, passada a apreensão inicial, muita gente já está se dando conta de que a IA está mais para aliada do que para ameaça.
Essa relação está muito clara no caso da suinocultura por conta da extrema capacidade de processamento de informações da IA, importante papel no suporte à atuação dos profissionais do setor, que entram com seu conhecimento, seu julgamento contextual e sua intuição. A combinação pode levar a atividade ao máximo potencial de produção.
Como explica Josiane, na integração entre humano e IA, cada parte contribui com seus pontos mais fortes. “A IA jamais vai substituir o ser humano”, enfatiza. É o que se vê no caso da automação, em que as máquinas assumiram trabalhos repetitivos e exaustivos, liberando as pessoas para funções mais estratégicas. Agora há uma valorização ainda maior de habilidades que já eram importantes, como saber fazer as perguntas certas.
O melhor resultado da IA depende da capacidade humana de treiná-la da forma adequada. É o tal do “prompt”, a instrução ou o comando que se aplica à máquina para que ela responda corretamente. “São os especialistas humanos que definem quais parâmetros importam, quais dados coletar e como interpretar os resultados no contexto específico de cada granja, por exemplo”, diz Josiane.
A pesquisadora da Embrapa esclarece que veterinários e zootecnistas interpretam as recomendações da IA levando em conta fatores locais e especificidades do criatório que podem não estar contemplados nos algoritmos, como particularidades climáticas regionais, características genéticas específicas ou restrições operacionais da propriedade. Cabe ao profissional humano avaliar se uma recomendação faz sentido prático no contexto real.
A mútua contribuição gera uma sinergia que acelera inclusive a curva de aprendizado de novos profissionais. A absorção de conhecimentos sistematizados ocorre mais rapidamente e o valioso conhecimento de especialistas experientes fica preservado, podendo ser parcialmente capturado pela IA.
