
Em um cenário global cada vez mais exigente em termos de sanidade, produtividade e acesso a mercados internacionais, a biosseguridade emerge como um pilar estratégico fundamental para a suinocultura moderna. Mais do que um conjunto de normas e protocolos, trata-se de uma verdadeira cultura de saúde que integra a prevenção e a gestão de riscos, protegendo pessoas, animais e todo o sistema produtivo.
Para aprofundar essa discussão, a Dra. Maria Nazaré Simões Lisboa, renomada especialista na área, compartilha suas valiosas orientações e estratégias, destacando o compromisso coletivo e o uso de tecnologias de ponta. Com vasta experiência em granjas comerciais, planos sanitários integrados, ciência de dados, controle epidemiológico e redução do uso de antibióticos, sua visão foca na sustentabilidade e competitividade do setor.
Suinocultura Industrial: Como define o papel estratégico da biossegurança dentro do manejo moderno de suínos?
A biossegurança é, sem dúvida, o pilar estratégico em que se baseia a produção moderna de carne suína. Não se trata apenas de um conjunto de normas ou protocolos, mas de uma verdadeira cultura de prevenção e gestão de riscos. Em um contexto global onde a pressão de doenças emergentes e reemergentes é constante, a biossegurança protege a saúde animal, a rentabilidade da granja e a sustentabilidade do sistema de produção. Além disso, é a chave para acessar mercados internacionais com requisitos sanitários cada vez mais exigentes. Uma suinocultura com um programa de biossegurança robusto é menos vulnerável a surtos de doenças, reduz o uso de antibióticos e melhora a eficiência da produção, o que se traduz em benefícios econômicos e de reputação.
Suinocultura Industrial: Quais os principais desafios e falhas recorrentes que observa nas granjas brasileiras quando se trata de implementar e manter um sistema de biossegurança realmente eficaz?
Um dos maiores desafios que observo na suinocultura brasileiras é a falta de uniformidade e consistência na aplicação das medidas de biossegurança. É comum ver certas práticas adotadas como pedilúvios, banho na entrada entre outras medidas, porém, sem integração real a um sistema abrangente e sem monitoramento rigoroso. Além disso, o risco associado à entrada de insumos, veículos, equipamentos ou mesmo pessoal externo é frequentemente subestimado. Outro problema é a falta de treinamento e conscientização contínuos de todos os trabalhadores, motoristas e operadores à gerência. Sem uma visão compartilhada e um compromisso coletivo, qualquer sistema de biossegurança está fadado ao fracasso a longo prazo.
Suinocultura Industrial: Como a movimentação de pessoas, veículos e equipamentos pode ser melhor controlada para evitar a introdução de patógenos? Há protocolos-chave que não podem ser negligenciados?
O controle de movimentação é um dos aspectos mais críticos da biossegurança. Para minimizar os riscos, é essencial estabelecer zonas distintas (áreas limpas, sujas e de transição) e implementar protocolos de acesso rigorosos. A tecnologia pode ser uma grande aliada: desde sistemas de registro digital baseados em códigos QR (livros de visitas digitais ou Biorisk External, comercializados pela ADA) para entradas e saídas, até conectá-los aos sistemas de GPS dos veículos de transporte. A desinfecção rigorosa de veículos e equipamentos, a quarentena de novos animais e a limitação do acesso de visitantes são medidas fundamentais. A importância da rastreabilidade não pode ser subestimada: saber quem entrou na propriedade, quando e como, permite uma resposta rápida a qualquer incidente. Assim, tenho a informação que o principal exportador de carne suína da Espanha (Cuartesa – Grupo Jorge) está trabalhando ativamente e implementando essas tecnologias com excelentes resultados.