
O mercado de suínos brasileiro encerrou o mês de maio com preços médios em alta, impulsionados pela demanda aquecida, especialmente no período do Dia das Mães. No entanto, uma análise mostra que o final do mês e o início de junho trouxeram cautela e instabilidade, reflexo do enfraquecimento da demanda típica de fim de mês e, principalmente, do cenário especulativo gerado pelos desdobramentos da influenza aviária no Brasil.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) revelam que, em maio, os preços do suíno vivo se mantiveram firmes nas três primeiras semanas na maioria das regiões acompanhadas. Na região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), a média do quilo do suíno vivo atingiu R$ 8,55, um aumento de 1,5% em comparação com abril. Em Arapoti (PR), o avanço foi ainda mais expressivo, de 2,9%, com o quilo sendo negociado a R$ 8,44. No atacado da Grande São Paulo, a carcaça especial suína também se valorizou, com um aumento de 2,4% de abril para maio, alcançando a média de R$ 12,74/kg.
Comparativo semanal e o impacto da Influenza Aviária
Apesar dos bons resultados de maio, a última semana do mês e o início de junho indicam uma virada de cenário. Levantamentos do Cepea da semana passada (29/05) já apontavam para uma queda nos preços do suíno vivo posto na indústria, após um período de estabilidade. A pressão, segundo pesquisadores, veio principalmente do enfraquecimento da demanda de final de mês e da especulação gerada pelos casos de influenza aviária no Brasil, que tem dificultado as comercializações. O mercado de cortes também acompanhou o movimento baixista do animal vivo.
Valores atuais do suíno vivo (05/06) por estado, em comparação com os preços médios de maio e a semana passada, demonstram a volatilidade do mercado:

Essa queda em relação às médias de maio em algumas regiões, como Paraná e São Paulo, corrobora a análise do Cepea sobre a pressão baixista sentida no final de maio e início de junho.



Expectativas para a próxima semana: reajustes e demanda aquecida em junho
Apesar das recentes quedas, o setor mantém o otimismo para os próximos dias, impulsionado pela expectativa de um aumento na demanda em junho. Valdomiro Ferreira, presidente da Associação Paulista de Criadores de Suíno (APCS), destaca que o mercado de São Paulo já sinaliza novos reajustes. “O mercado de suínos em São Paulo sinalizou novos reajustes com os fundamentos de ser a próxima semana a melhor semana de consumo baseado no mês de junho”, afirma Ferreira.
Ele projeta um preço de R$ 163,00 para a carcaça e R$ 8,70 o quilo vivo, com condições de bolsa e pagamento em 21 dias. Há também uma grande expectativa de novas tabelas por parte dos frigoríficos para o mercado atacadista e varejista, o que, segundo Ferreira, “dá garantia para que a gente possa praticar o preço de R$ 163,00 a partir da próxima semana”.
Perspectivas
Nos próximos dias são de uma recuperação gradual, impulsionada pelo aquecimento natural da demanda em junho, que tradicionalmente é um mês de maior consumo. No entanto, a atenção do setor permanece voltada para os desdobramentos da influenza aviária, que pode continuar influenciando o comportamento dos preços e a fluidez das comercializações. A capacidade dos frigoríficos de repassar os custos e a adaptação do mercado varejista serão cruciais para a consolidação dos preços projetados e para a estabilidade do setor nas próximas semanas.
Fatores que influenciam o mercado da suinocultura:
Custos de produção (especialmente ração): A ração, composta principalmente por milho e farelo de soja, representa a maior parcela dos custos de produção. Flutuações nos preços desses grãos impactam diretamente a rentabilidade do produtor.
Oferta e demanda: O equilíbrio entre a quantidade de suínos disponíveis para abate e o consumo de carne suína no mercado interno e externo é fundamental para a formação dos preços. Períodos de maior demanda (como datas comemorativas) tendem a elevar as cotações, enquanto o excesso de oferta as pressiona para baixo.
Concorrência com outras proteínas: Os preços e a disponibilidade de outras carnes, como bovina e de frango, influenciam a preferência do consumidor e, consequentemente, a demanda por carne suína.
Sanidade animal e barreiras sanitárias: Surtos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) ou, como no caso atual, a influenza aviária, podem gerar grandes prejuízos ao setor, impactando a produção, o consumo e as exportações devido a possíveis barreiras sanitárias impostas por países importadores.
Políticas governamentais e câmbio: Incentivos fiscais, linhas de crédito, regulamentações sanitárias e ambientais, bem como o valor do câmbio (taxa de conversão entre o real e outras moedas) podem afetar a competitividade da suinocultura brasileira no mercado internacional e os custos de insumos importados.
Aquicultura: estabilidade marca o setor na virada do mês

O mercado da tilápia no Brasil demonstrou notável estabilidade nos preços na virada de maio para junho, com a maioria das regiões produtoras registrando poucas variações. Análise do Cepea revela um cenário de manutenção nos valores, indicando um equilíbrio entre oferta e demanda no setor aquícola.
Na semana encerrada em 30 de maio, a região de Grandes Lagos manteve o preço em R$ 8,13 por quilo, o mesmo valor observado na semana anterior, em 23 de maio. A estabilidade também foi a tônica no Oeste do Paraná, que fixou o quilo da tilápia em R$ 7,43 nas duas semanas.
Pequenas oscilações foram registradas em outras importantes praças. Em Morada Nova de Minas, o preço recuou marginalmente de R$ 8,47 (23/05) para R$ 8,45 (30/05). Similarmente, o Norte do Paraná viu uma leve queda de R$ 8,65 para R$ 8,60 no mesmo período. Já no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, a variação foi mínima, com o preço passando de R$ 8,33 para R$ 8,31 por quilo.

A ausência de grandes flutuações nos preços sugere um período de previsibilidade para os produtores e comercializadores de tilápia, um dos principais produtos da aquicultura nacional. Essa estabilidade é um indicador positivo para a saúde econômica do setor, que tem se consolidado como uma importante fonte de proteína e renda no país.
Grãos: Soja estável, Milho em queda e Trigo pressionado por oferta global

O mercado de grãos no Brasil apresenta um cenário misto, com a soja oscilando em uma faixa estreita de preços, o milho em trajetória de queda e o trigo sob pressão devido à ampla oferta global e doméstica. Fatores como o ritmo de cultivo nos Estados Unidos, as tarifas comerciais e a expectativa de safras recordes estão moldando o comportamento dos preços.
Soja: preços estáveis em meio a variações globais
Ao longo de maio, os preços da soja mantiveram-se relativamente estáveis, com pequenas oscilações, segundo análise Cepea. Essas variações foram influenciadas pela oferta sul-americana, o ritmo de plantio da nova safra nos Estados Unidos e os impactos das tarifas comerciais norte-americanas sobre outros países, além das reações dos governos afetados.
Na última semana, as cotações da soja seguiram ligeiramente pressionadas, resultando em uma média mensal de maio abaixo da observada em abril. Apesar disso, as exportações de soja em grão continuam em ritmo acelerado.
Confira os valores da soja (05/06):
- Paranaguá: R$ 134,04
- Paraná: R$ 127,97
Milho: oferta crescente pressiona preços para baixo
Os preços do milho seguem em trajetória de queda no mercado doméstico, conforme análise do Cepea. Pesquisadores explicam que a oferta do cereal tem aumentado, e a expectativa é de que a disponibilidade se mantenha elevada nas próximas semanas, principalmente com o início da colheita da segunda safra.
Esse cenário tem tornado os vendedores mais flexíveis nas negociações, enquanto os compradores se afastam das aquisições, optando por volumes para o curto prazo. Apesar de notícias sobre a possibilidade de geadas em algumas regiões produtoras de milho terem oferecido um suporte temporário aos preços na semana passada, a perspectiva de ampla oferta no Brasil prevalece e mantém os valores em queda.
- O valor do milho (05/06) é de R$ 68,96
Trigo: queda de preços impulsionada por safra recorde
Em maio, os preços médios do trigo apresentaram queda, segundo análise Cepea. A pressão veio do avanço da semeadura no Brasil, da expectativa de uma safra recorde mundial e da projeção de produção argentina crescente.
De modo geral, o Cepea observou uma maior disparidade entre os valores ofertados por agentes ativos no mercado spot. As negociações de trigo foram lentas ao longo do mês, com compradores buscando apenas lotes pontuais e mantendo suas ofertas de preços abaixo do esperado pelos vendedores. Enquanto isso, os triticultores estiveram focados nos trabalhos de campo e cautelosos na disponibilização de novos lotes.
Confira os valores do trigo (05/06):
- Paraná: R$ 1.534,40
- Rio Grande do Sul: R$ 1.363,32
Perspectivas
O cenário para os grãos no Brasil continua a ser influenciado por uma combinação de fatores climáticos, dinâmicas de oferta e demanda globais, e políticas comerciais. A colheita da segunda safra de milho promete manter a pressão sobre os preços do cereal no curto prazo. Para a soja, a atenção se volta para o desenvolvimento da safra norte-americana e as tensões comerciais que podem trazer volatilidade. Já o trigo, com expectativas de recorde na produção global e recuperação argentina, deve seguir com preços pressionados, desafiando a rentabilidade dos produtores brasileiros.
Fatores que influenciam o mercado de grãos:
- Condições climáticas: Fatores como secas, geadas, excesso de chuvas e outros eventos climáticos extremos impactam diretamente a produção e, consequentemente, a oferta e os preços dos grãos.
- Oferta e demanda global: O equilíbrio entre a produção mundial e o consumo de grãos em diferentes países, especialmente grandes players como China, Estados Unidos e União Europeia, dita a direção dos preços.
- Variações cambiais: O valor do real frente a moedas como o dólar afeta a competitividade das exportações brasileiras de grãos e os custos de importação de insumos.
- Políticas governamentais e tarifas comerciais: Subsídios agrícolas, impostos sobre exportação/importação e acordos comerciais podem alterar significativamente as condições de mercado e os fluxos de comércio.
- Estoques globais: O nível dos estoques mundiais de grãos serve como um amortecedor para a volatilidade dos preços. Estoques baixos tendem a impulsionar os valores, enquanto estoques elevados os pressionam para baixo.