
Na edição nº 928 da revista Avicultura Industrial, publicada em abril de 1987, os rotavírus aviários foram destacados como um novo desafio sanitário para a avicultura moderna. Até então, esses vírus eram amplamente reconhecidos por sua atuação em mamíferos jovens, como suínos e bezerros, mas sua presença em aves começava a ser estudada com maior profundidade.
A infecção compromete o epitélio intestinal, resultando em diarreias, desidratação e perdas de desempenho zootécnico. Embora muitas infecções fossem subclínicas, os danos histológicos, como achatamento de vilosidades e dilatação das criptas, indicavam impacto produtivo relevante.

Com métodos diagnósticos ainda em desenvolvimento, a microscopia eletrônica foi apontada como a técnica mais sensível, e a resposta imune nas aves, ainda pouco compreendida, passou a ser investigada com maior atenção.
O alerta dado em 1987 reforça o papel crucial da vigilância sanitária e da pesquisa constante para entender a dinâmica de agentes emergentes que podem comprometer o desempenho da avicultura industrial.
Texto:
Os rotavírus das aves
Embora os rotavírus sejam amplamente reconhecidos como causadores de enterites e diarreias em suínos jovens, bezerros e crianças, a identificação desses vírus em aves é relativamente recente. Desde então, estudos têm avançado para compreender o impacto desses patógenos na avicultura.
Características do vírus
Os rotavírus pertencem à família Reoviridae, ao lado dos reovírus e orbivírus. Possuem cápsula icosaédrica de dupla camada com cerca de 70 nm de diâmetro, podendo ter essa camada externa removida — resultando em partículas não infecciosas semelhantes aos orbivírus. Seu genoma é formado por 11 segmentos de RNA de dupla fita, que podem ser separados por eletroforese em gel de poliacrilamida. Mostram-se relativamente estáveis, resistindo a pH ácido (até 3,0) e a solventes como clorofórmio e éter.
Nos rotavírus aviários já foram identificados quatro sorogrupos distintos, que não apresentam reatividade cruzada por imunofluorescência. Um desses sorogrupos apresenta relação antigênica com os rotavírus de mamíferos.
Epidemiologia e patogênese
Infecções por rotavírus têm sido documentadas em frangos de corte, poedeiras, galinhas-d’Angola, patos e perus, particularmente em aves jovens. Estudos indicam que esses vírus circulam globalmente entre espécies domésticas. Acredita-se que, assim como em mamíferos, o rotavírus possa causar enfermidades de impacto produtivo, ainda que muitas infecções se apresentem de forma subclínica.
Após a ingestão, o vírus se replica nas células epiteliais das vilosidades do intestino delgado, podendo também afetar o cólon. As células infectadas são lisadas e o vírus é excretado pelas fezes por cerca de uma semana. A infecção pode levar à má absorção e à diarreia. Não há evidência de transmissão vertical, nem de portadores persistentes.
Manifestações clínicas e lesões
O sinal clínico predominante é a diarreia. Em frangos SPF, a infecção pode ser branda, com aumento transitório na eliminação fecal pelo ceco entre 1 e 2 dias. À necropsia, os cecos podem estar distendidos por fluidos e gases. Também podem ocorrer inflamação anal, desidratação, anemia (devida à picagem), e presença de fezes incrustadas na região plantar.
As alterações histológicas incluem achatamento e espessamento das vilosidades, hiperplasia e dilatação das criptas — lesões que, embora sugestivas, não são patognomônicas para rotavírus.
Imunidade e diagnóstico
A resposta imune em pintos SPF é detectável 14 dias após a infecção oral. Os anticorpos maternos, transmitidos pela gema, persistem por até quatro semanas. A proteção efetiva parece exigir a presença do anticorpo na luz intestinal.
O diagnóstico laboratorial baseia-se em amostras de fezes, que devem ser coletadas preferencialmente de diferentes locais do aviário e transportadas em recipientes herméticos. O método mais sensível é a microscopia eletrônica, sendo recomendada a purificação do material por extração com fluido de carbono e centrifugação.
Considerações finais
Apesar de ainda pouco compreendidos, os rotavírus aviários podem representar um desafio sanitário importante na avicultura moderna. Sua diversidade antigênica, estabilidade ambiental e potencial impacto em produtividade demandam mais estudos e atenção por parte de profissionais da área.