
A crise frequentemente carrega uma conotação negativa. No entanto, para mercados dinâmicos e bem posicionados, um cenário de incerteza pode se transformar em uma grande oportunidade de crescimento. Esse é exatamente o caso do setor avícola brasileiro, que pode ganhar ainda mais força no mercado global de frango diante do surto de influenza aviária nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
Nos últimos meses, os EUA, um dos maiores produtores de carne de frango do planeta, enfrentaram uma grave crise sanitária devido à influenza aviária, levando à morte de milhões de aves e impactando diretamente a oferta da proteína no mercado global de frango. Em meio a esse cenário, o Brasil, que até o momento mantém um status sanitário livre da doença em suas granjas comerciais, se consolida como um fornecedor seguro e confiável, pronto para atender a uma demanda crescente no mercado internacional.
Mas como essa crise pode se tornar um divisor de águas para o setor avícola brasileiro? Quais são os desafios e oportunidades que esse momento apresenta? Vamos explorar esse cenário detalhadamente.
O surto de influenza aviária nos EUA e seus efeitos no mercado global
Desde o início de 2025, os Estados Unidos têm enfrentado um dos piores surtos de influenza aviária de sua história. O vírus H5N1, altamente patogênico, se espalhou rapidamente por diversas regiões do país, atingindo estados produtores-chave como Geórgia, Carolina do Norte e Arkansas. Como consequência, milhões de aves precisaram ser abatidas, reduzindo drasticamente a oferta de carne de frango e ovos.
Além do impacto interno, esse surto tem gerado preocupações em países importadores da carne de frango norte-americana. A União Europeia, o Japão e o México, que tradicionalmente compram volumes expressivos dos EUA, passaram a buscar alternativas no mercado internacional.
Com menos oferta e maior demanda, os preços da carne de frango dispararam. O índice global de preços de proteínas animais da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) já registra aumentos superiores a 15% desde o final de 2024, um reflexo direto da crise sanitária.
E é aqui que o Brasil entra como um dos grandes protagonistas desse novo cenário.
Brasil: um porto seguro em meio à crise sanitária para o mercado global de frango
O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, tem um diferencial essencial: até o momento, não registrou nenhum caso de influenza aviária em granjas comerciais. Esse status sanitário privilegiado tem garantido ao país uma posição de destaque no mercado global de proteínas.
Além da sanidade do plantel, o Brasil conta com uma indústria avícola altamente estruturada, capaz de aumentar a produção para atender às novas demandas sem comprometer a qualidade e segurança alimentar. As grandes empresas do setor, como BRF e JBS, já estão reforçando sua capacidade produtiva e ajustando suas estratégias de exportação para suprir as lacunas deixadas pelos EUA e outros países afetados.
A vantagem competitiva brasileira se torna ainda mais evidente quando consideramos o peso que os critérios sanitários têm nas decisões de importação de países rigorosos, como Japão e União Europeia. Com surtos ativos na América do Norte e na Europa, muitas nações preferem redirecionar suas compras para fornecedores confiáveis, o que beneficia diretamente o Brasil.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de carne de frango já apresentaram um crescimento de 10% no primeiro trimestre de 2025, e a tendência é que essa alta se mantenha ao longo do ano.
Mas quais são os principais mercados que o Brasil pode conquistar nesse novo contexto?
Novos mercados e oportunidades de expansão para o frango brasileiro
Com a redução da oferta de frango dos EUA, diversos países que antes dependiam das importações norte-americanas estão reavaliando seus fornecedores. Entre os mercados mais promissores para o Brasil, podemos destacar:
- China: Maior consumidor mundial de carne de frango, o país tem ampliado suas compras do Brasil, que já é seu principal fornecedor. Com a crise nos EUA, essa dependência tende a aumentar ainda mais.
- México: Fortemente afetado pela queda na oferta de frango dos EUA, o México já está negociando maiores volumes com empresas brasileiras para garantir o abastecimento.
- Filipinas e Indonésia: Países do sudeste asiático que tradicionalmente compravam carne de frango dos EUA e da Europa agora veem o Brasil como uma alternativa confiável e segura.
- Oriente Médio: Grandes consumidores de carne de frango halal, países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão ampliando as importações do Brasil, especialmente após as restrições sanitárias aos EUA.
Além da conquista de novos mercados, a crise também pode resultar em contratos mais vantajosos para o Brasil. Com menos concorrência no mercado global, os exportadores brasileiros têm maior poder de negociação, podendo obter melhores margens e consolidar sua liderança no setor.
Desafios e como o Brasil pode maximizar essa oportunidade
Embora o cenário seja extremamente favorável para o Brasil, algumas questões ainda precisam ser endereçadas para que o setor avícola aproveite ao máximo essa oportunidade.
- Manutenção do status sanitário: A influenza aviária tem se espalhado rapidamente pelo mundo, e é essencial que o Brasil continue investindo em biosseguridade para evitar surtos internos. Qualquer registro da doença em granjas comerciais poderia comprometer as exportações.
- Capacidade de produção e logística: Com o aumento na demanda internacional, as empresas do setor precisam garantir que tenham capacidade produtiva suficiente para atender aos novos contratos, sem que isso impacte o abastecimento do mercado interno.
- Política cambial e custos de produção: A valorização do real frente ao dólar pode impactar a competitividade do frango brasileiro no mercado externo. Além disso, custos com ração e logística devem ser monitorados para evitar impactos negativos na lucratividade do setor.
- Consolidação de novos mercados: Para que essa oportunidade se transforme em um crescimento sustentável, o Brasil precisa firmar parcerias de longo prazo com os novos mercados conquistados, garantindo relações comerciais duradouras.
Transformando a crise em crescimento
A crise da influenza aviária nos Estados Unidos e em outros países produtores representa um marco no mercado global de proteínas. Para o Brasil, esse cenário oferece uma oportunidade única de expandir sua participação no comércio internacional de carne de frango, consolidando sua posição como o principal fornecedor global da proteína.
Se o setor avícola brasileiro conseguir manter seu status sanitário, ajustar sua capacidade produtiva e fortalecer suas relações comerciais com novos mercados, essa crise pode se transformar em um dos maiores impulsionadores do crescimento do país no setor.
Dessa forma, o que inicialmente parecia ser um problema global para o abastecimento de carne de frango pode se tornar um grande trampolim para o agronegócio brasileiro. A chave está em agir estrategicamente e garantir que essa janela de oportunidade seja aproveitada ao máximo.
A importância da biosseguridade na manutenção do status sanitário
Manter o Brasil livre da influenza aviária é um dos maiores desafios do setor avícola e, ao mesmo tempo, uma condição essencial para que o país continue expandindo suas exportações e fortalecendo sua posição no mercado global de frango. Para isso, a biosseguridade tem um papel estratégico, pois é a principal ferramenta de prevenção contra a introdução e disseminação de doenças nas granjas comerciais.
O que é biosseguridade e por que ela é essencial?
Biosseguridade é o conjunto de medidas adotadas para prevenir a entrada e a propagação de agentes patogênicos em sistemas de produção animal. No caso da avicultura, essa estratégia envolve desde práticas rigorosas de controle sanitário até protocolos de manejo que garantem a segurança das aves.
A importância dessas medidas se tornou ainda mais evidente com os surtos de influenza aviária registrados nos Estados Unidos e em outros países, que levaram à perda de milhões de aves e impactaram a oferta global de frango. No Brasil, a ausência da doença em granjas comerciais é um dos principais diferenciais competitivos, o que exige um compromisso contínuo com a biosseguridade para evitar qualquer risco de contaminação.
Principais práticas de biosseguridade na avicultura brasileira
Para garantir a manutenção do status sanitário e evitar que a influenza aviária chegue ao Brasil, o setor avícola segue uma série de protocolos de biosseguridade. Entre as principais medidas adotadas estão:

- Controle rígido de acesso às granjas: O trânsito de pessoas, veículos e equipamentos nas áreas de produção é limitado, com desinfecção obrigatória antes da entrada nas instalações.
- Uso de barreiras sanitárias: Muitas granjas implementam zonas de segurança para minimizar o contato entre aves comerciais e aves silvestres, que são potenciais transmissores do vírus.
- Monitoramento contínuo das aves: A vigilância epidemiológica inclui testes frequentes para detecção precoce de qualquer sinal da doença, permitindo uma resposta rápida em caso de ameaça.
- Capacitação de profissionais e produtores: Treinamentos regulares garantem que todos os envolvidos na cadeia produtiva sigam corretamente os protocolos de biosseguridade.
- Rastreamento e controle de insumos: A procedência de ração, água e outros insumos utilizados na produção é rigorosamente fiscalizada para evitar contaminação.
- Campanhas de conscientização: O setor investe em ações educativas voltadas aos produtores e trabalhadores rurais para reforçar a importância da biosseguridade no dia a dia das operações.
O impacto da biosseguridade no comércio global de frango
O compromisso com a biosseguridade não apenas protege a produção nacional contra surtos de influenza aviária, mas também fortalece a confiança dos mercados internacionais no frango brasileiro. Países como China, Japão e União Europeia exigem altos padrões sanitários para importação de carne de frango, e qualquer registro da doença no Brasil poderia resultar em restrições comerciais severas.
Lembremos que a adoção de medidas de biosseguridade eficientes permite que o Brasil amplie sua presença global de forma sustentável, garantindo que a avicultura nacional continue crescendo sem comprometer sua integridade sanitária. Para que isso ocorra, é essencial que o setor mantenha investimentos contínuos em inovação e fiscalização, assegurando que todas as etapas da produção sigam os mais altos padrões de qualidade e segurança.
Em um cenário global de incertezas sanitárias, a biosseguridade é o fator que diferencia o Brasil de outros países produtores de frango. Manter esse compromisso com o controle sanitário não é apenas uma exigência técnica, mas uma necessidade estratégica para garantir o crescimento do setor, preservar empregos e consolidar o Brasil como o principal fornecedor mundial de carne de frango.
A crise da influenza aviária nos EUA serve como um alerta para a importância da prevenção. Enquanto países enfrentam dificuldades para conter surtos da doença, o Brasil tem a oportunidade de fortalecer ainda mais sua posição no mercado global de frango – desde que continue priorizando a biosseguridade como pilar fundamental da produção avícola.