
A JBS consolidou um passo significativo em direção à sua dupla listagem, ao estabelecer um acordo com a BNDESPar, sua maior acionista minoritária. O acordo prevê um pagamento de até R$ 500 milhões pela J&F, caso a valorização das ações da JBS não alcance a expectativa estabelecida com a internacionalização. Embora a meta de valorização das ações permaneça em sigilo, o Citi projeta um potencial de alta média de 40% para os papéis da empresa com a listagem.
Após o acordo, o BNDESPar comprometeu-se a abster-se da votação na assembleia que decidirá sobre a dupla listagem, deixando a decisão a cargo dos demais acionistas minoritários. A assembleia será convocada somente após a aprovação da Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários americana, para a oferta de ações da JBS nos Estados Unidos, além do Brasil.
“A decisão do BNDES de se abster efetivamente remove um obstáculo potencial, permitindo que outros acionistas minoritários liderem a decisão. O mercado há muito tempo vê a JBS como subvalorizada em comparação à Tyson Foods, e uma listagem bem-sucedida na NYSE pode servir como o gatilho muito esperado para uma reclassificação significativa”, afirmou a analista Renata Cabral, do Citi, em relatório.
Em relação à liquidez, a expectativa é que a JBS, ao ser listada nos EUA, possa ser incluída em um número maior de índices, o que, na avaliação do Citi, impactaria positivamente a negociação das ações. “Com base no atual limite de mercado e nos critérios de inclusão de índice, acreditamos que a JBS poderia ser incorporada aos principais índices Russell e potencialmente no S&P 500”, estimou a especialista.
A JBS busca listar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York desde 2016, com diferentes modelos ao longo dos anos. A listagem foi adiada em diversas ocasiões, devido a veto corporativo do BNDES, litígios e a pandemia da Covid-19.
Oportunidades e Desafios
Analistas apontam que a listagem na Bolsa de Valores de Nova York pode aproximar a avaliação da JBS de sua concorrente internacional, a Tyson. A JBS historicamente tem sido negociada com um desconto de aproximadamente 45% em relação à Tyson, e a exposição a um “pool de investidores” semelhante pode reduzir essa diferença. A possibilidade de uma eventual oferta de ações no mercado americano com avaliações mais altas também é vista como um fator positivo.
Os analistas do Santander, Guilherme Palhares e Laura Hirata, consideram que a listagem da JBS nos EUA pode ser transformadora para a companhia, proporcionando acesso a novos fundos e a uma estrutura acionária flexível. No entanto, eles ressaltam que atingir o patamar de avaliação da Tyson não será um processo fácil ou imediato.
A Genial Investimentos destaca que a JBS continua a superar obstáculos burocráticos e exigências da SEC. A corretora também observa que a divulgação do acordo com o BNDESPar sugere que o BNDES era contrário à dupla listagem, e o acordo foi estruturado para neutralizar o voto contrário que seria proferido na assembleia. Historicamente, o BNDES tem se posicionado contra a internacionalização da JBS, possivelmente devido a críticas sobre a manutenção de uma posição relevante em uma empresa com ações listadas em uma bolsa de valores fora do Brasil.