
Publicada na edição nº 927 da revista Avicultura Industrial, de 1987, esta matéria apresenta um panorama técnico sobre a criação industrial da galinha-d’angola para corte no Brasil. Assinada pelo médico-veterinário Francisco Militão de Sousa, a reportagem destaca os avanços genéticos importados da França, as exigências nutricionais específicas das aves e a importância de práticas de biosseguridade e manejo adequadas para garantir o sucesso produtivo. Em um momento em que o setor buscava alternativas à produção convencional de frangos, a galinha-d’angola surgia como uma opção promissora e rentável para a avicultura nacional.
Criação industrial de galinha-d’angola para corte exige manejo técnico e nutrição de precisão
A criação industrial da galinha-d’angola para corte vem se consolidando no Brasil como uma alternativa viável à produção tradicional de frangos. Segundo o médico-veterinário Francisco Militão de Sousa, a base genética das angolas industriais comercializadas no país é resultado de mais de 20 anos de melhoramento zootécnico realizados na França, conferindo às aves um potencial produtivo significativamente superior ao das aves crioulas.
Com crescimento rápido e constante, essas aves podem atingir até 1.700 gramas aos 93 dias, desde que mantidas sob rigoroso manejo nutricional e sanitário. Por serem sensíveis à qualidade da alimentação e à presença de fungos, a formulação das rações e o ambiente de criação exigem atenção especial.
Fases de criação e exigências nutricionais
O ciclo de produção das angolas industriais é de aproximadamente 13 semanas, dividido em três fases:
- Inicial (0 a 4 semanas): Ração com 23% de proteína e 2.900 Kcal/kg de energia metabolizável. Esta fase é a mais crítica, exigindo boa ambiência e alimentação balanceada.
- Crescimento (5 a 8 semanas): As exigências nutricionais diminuem, e o consumo médio de ração é de 1.900 gramas por ave. A densidade ideal de alojamento é de até 10 aves por m².
- Final (9 a 13 semanas): Rações com níveis ajustados de proteína e minerais (Quadro V). O consumo médio nesta fase é de cerca de 2.540 gramas por ave.
As dietas devem usar apenas fontes proteicas vegetais, como soja, e ingredientes de boa qualidade e baixa umidade, principalmente o milho (inferior a 14% de umidade), para prevenir contaminação fúngica. A presença de micotoxinas é especialmente prejudicial às angolas.
As instalações podem ser as mesmas usadas na criação de frangos de corte, com adaptações no manejo térmico, principalmente nos primeiros dias de vida, quando a temperatura inicial deve ser de 34°C, reduzida gradativamente até 20°C. O uso de luz azul durante o período noturno ajuda a evitar amontoamentos.
Os sistemas de alimentação e hidratação podem utilizar comedouros tubulares e bebedouros pendulares, além dos modelos lineares tradicionais.
Como medida preventiva, recomenda-se uma dose única de vacina contra Newcastle na 5ª semana de vida. É fundamental manter boas práticas de higiene, fornecer água tratada e realizar exames de fezes a cada 25 dias para detectar coccidioses e verminoses. As angolas são comumente afetadas por Eimeria numidae e Eimeria grenieri, sendo necessário o uso de anticoccidianos nas rações das três fases. Mesmo com a profilaxia, surtos esporádicos podem ocorrer e devem ser tratados com medicamentos similares aos usados em frangos.
A criação industrial de galinhas-d’angola para corte demanda um manejo técnico rigoroso, com foco em nutrição balanceada, controle sanitário e ambiência adequada. Com esses cuidados, o sistema pode ser altamente produtivo e uma alternativa rentável à avicultura tradicional.