
Uma iniciativa assistencialista no coração da maior zona produtiva de carne de frango do Brasil pode desencadear uma crise de biosseguridade com potencial para abalar a economia do estado. Um projeto que tem como objetivo fornecer carne de frango e ovos no Paraná, apoiado pela Fundação Luterana de Diaconia e pela Itaipu Binacional, está sob olhares atentos de entidades do setor agropecuário, que o apontam como uma ameaça gravíssima à sanidade animal e às exportações bilionárias do estado.
O projeto em questão já colocou em operação aproximadamente 6.400 aves sob os cuidados de grupos indígenas guaranis em 64 instalações precárias, equipadas de forma básica e cercado por recintos abertos. A iniciativa, que busca fortalecer a segurança alimentar de cerca de 500 pessoas em comunidades do oeste e litoral do Paraná, ignora, segundo críticos, décadas de investimento em um sistema de sanidade animal potente e reconhecido internacionalmente.
A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) lidera as críticas, exigindo medidas urgentes para deter o projeto. A entidade teme que essas criações comunitárias, com desrespeito às normas de biosseguridade, se tornem focos de disseminação de doenças como a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). Um surto, mesmo que isolado, poderia fechar mercados internacionais importantes para o Paraná, com perdas financeiras incalculáveis.
“É um absurdo colocar em risco todo o nosso sistema sanitário, construído com anos de investimento público e privado, por uma ação que, embora bem-intencionada, demonstra total desconhecimento dos riscos”, dispara o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette. “O Paraná é líder nacional e internacional em avicultura, e qualquer negligência com a biosseguridade pode ter consequências catastróficas para toda a cadeia produtiva e para a economia do estado.”
A preocupação da FAEP é refletida por órgãos estatais como a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), que também manifestaram sua apreensão e recomendaram uma reavaliação urgente do projeto, com foco na implementação de medidas sanitárias rigorosas. O estado do Paraná ostenta o maior rebanho avícola comercial do Brasil, representando 30% da produção nacional e 40% das exportações. Sua reputação sanitária, conquistada com o status de área livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica, é um patrimônio que está sendo colocado em xeque.
Diante da pressão do setor produtivo e dos órgãos de defesa sanitária, a Itaipu Binacional anunciou um protocolo sanitário para os 64 galinheiros comunitários. O acordo, firmado em reunião com representantes do poder público e do setor produtivo, prevê o georreferenciamento das instalações, o cadastro de todos os animais e a exclusão de outras espécies de aves, além de galinhas. A Itaipu também se comprometeu a concentrar os galinheiros na região Oeste do Paraná e a não adquirir novas aves.
No entanto, para a FAEP, as medidas anunciadas precisam ser implementadas com rigor e fiscalização constante para garantir a efetividade do protocolo. “Vamos continuar acompanhando de perto a situação para garantir os interesses dos produtores rurais e de toda a agropecuária paranaense”, enfatiza Meneguette.
Apesar da boa intenção de promover a segurança alimentar para comunidades vulneráveis, a falta de planejamento e a negligência com a biosseguridade neste projeto levantam um debate: a caridade pode, em nome de um pequeno grupo, colocar em risco a saúde animal e a economia de uma região inteira? No Paraná, a resposta parece ser um sonoro “não”. A prioridade agora é garantir que a maior zona produtiva de carne de frango do Brasil não pague um preço altíssimo por uma iniciativa que nasceu equivocada.