
As restrições causadas pela gripe aviária impactam o mercado de frango doméstico, derrubando preços e o poder de compra dos avicultores. Em contraste, as exportações de ovos disparam, impulsionadas pela demanda dos EUA, alcançando o maior volume mensal da história.
Mercado de frango: preços em queda e poder de compra em alerta
O mercado de frango vivo no Brasil enfrenta um período de desvalorização significativa, impactando diretamente a rentabilidade dos avicultores. Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que as quedas no preço do frango vivo, que superam as dos principais insumos como milho e farelo de soja, podem interromper uma sequência de dois meses de avanço no poder de compra dos produtores paulistas frente ao cereal e sete meses em relação à oleaginosa.
Essa pressão sobre os preços é reflexo da elevada oferta de carne de frango no mercado doméstico, resultado direto das restrições às exportações brasileiras causadas pela confirmação de um foco de Influenza Aviária (gripe aviária) em uma granja comercial no Rio Grande do Sul em 15 de maio. Com o aumento da disponibilidade interna, os compradores se afastam da aquisição de novos lotes, intensificando a pressão sobre as cotações neste início de junho. No estado de São Paulo, o frango vivo registra uma média de R$ 5,51/kg na parcial deste mês, um forte recuo de 12% em relação à média de maio.

Comparativo semanal: Na semana passada, o Cepea já apontava para quedas nos preços do frango vivo e da carne em praticamente todas as regiões, também devido à oferta elevada. Embora o aquecimento típico da demanda no início do mês tenha limitado as baixas, o cenário atual é de forte concorrência, inviabilizando ajustes positivos nas cotações.
Mercado de ovos: exportações em disparada e preços domésticos em alta
Em um cenário oposto ao da carne de frango, as exportações brasileiras de ovos (in natura e processados) continuaram avançando em maio, mesmo diante das restrições impostas após o foco de Influenza Aviária. Impulsionadas pela forte e constante demanda dos Estados Unidos, que absorveram 77,8% do volume exportado no mês passado, as vendas atingiram o maior volume mensal já registrado na série histórica da Secex, iniciada em 1997.
Dados da Secex, compilados e analisados pelo Cepea, revelam que foram embarcadas 5,36 mil toneladas de ovos em maio, representando um aumento de 23% em relação a abril e um impressionante crescimento de 296% na comparação anual.
No mercado doméstico, as cotações dos ovos estão em alta pela segunda semana consecutiva em todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. A combinação de oferta controlada e demanda aquecida tem sustentado essas elevações nesta primeira quinzena de junho.


Comparativo semanal: Após dois meses consecutivos de queda, os preços dos ovos já mostravam recuperação no início de junho. A virada do mês trouxe melhora no poder de compra da população e, consequentemente, aumento na procura por ovos, além de uma oferta mais ajustada. Em relação à Influenza Aviária, não há novos registros em granjas comerciais no Brasil até o momento. Se a situação permanecer, o país poderá retomar o status de livre da doença a partir de 18 de junho, conforme prazo da OMSA.
Perspectivas
O cenário da avicultura brasileira se mostra dicotômico. Enquanto a carne de frango enfrenta desafios com a sobreoferta interna e a pressão sobre os preços devido às restrições sanitárias, o setor de ovos demonstra notável resiliência, impulsionado por exportações recordes e uma demanda interna aquecida. A recuperação do status sanitário do Brasil em relação à Influenza Aviária será um fator crucial para reequilibrar o mercado de carne de frango e pavimentar o caminho para a retomada das exportações, enquanto o setor de ovos busca consolidar sua posição de destaque no cenário global.
Fatores que influenciam o mercado da avicultura:
- Status sanitário e doenças (gripe aviária): A ocorrência de doenças como a Influenza Aviária é o fator de maior impacto, podendo levar a restrições imediatas de exportação por parte de países importadores, gerando excedente de oferta no mercado interno e queda nos preços. O controle e erradicação rápida são cruciais.
- Custos de produção (milho e farelo de soja): A ração, composta majoritariamente por milho e farelo de soja, representa a maior parte dos custos de produção. Flutuações nos preços desses grãos afetam diretamente a margem de lucro dos avicultores, exigindo gestão eficiente dos custos.
- Demanda doméstica e poder de compra: O consumo de carne de frango e ovos no mercado interno é sensível ao poder de compra da população e às tendências de consumo. Períodos de maior renda ou sazonalidade podem impulsionar a demanda e os preços.
- Taxa de câmbio: Para o segmento de exportação (tanto de carne quanto de ovos), o valor do Dólar frente ao Real é fundamental. Um Dólar valorizado torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, favorecendo as vendas e a receita em Reais.
- Concorrência com outras proteínas: A disponibilidade e os preços de outras carnes (bovina e suína) influenciam a escolha do consumidor. Uma oferta abundante ou preços mais baixos de proteínas concorrentes podem desviar a demanda e impactar o mercado avícola.
Aquicultura: estabilidade e leves flutuações no mercado nacional

Os preços da tilápia apresentaram pequenas variações na última semana em diversas regiões produtoras do Brasil, de acordo com dados do Cepea. A análise dos valores de 6 de junho em comparação com 30 de maio revela um cenário de estabilidade, com leves ajustes em algumas localidades.
Panorama geral
A estabilidade predominou na maior parte das regiões acompanhadas pelo Cepea. O Triângulo Mineiro e Alto Paraíba, por exemplo, manteve o preço inalterado em R$ 8,31 por quilo.
Destaques regionais
- Grandes Lagos: A região registrou uma leve queda, passando de R$ 8,13 (30/05) para R$ 8,11 (06/06).
- Morada Nova de Minas: Houve um ligeiro aumento, com o preço saindo de R$ 8,45 (30/05) para R$ 8,46 (06/06).
- Norte do Paraná: A cotação recuou marginalmente de R$ 8,60 (30/05) para R$ 8,59 (06/06).
- Oeste do Paraná: Esta região também apresentou uma pequena retração, com o preço saindo de R$ 7,43 (30/05) para R$ 7,41 (06/06).

Esses dados refletem a dinâmica do mercado da aquicultura, influenciada por fatores como oferta, demanda e custos de produção em cada região. Acompanhar essas variações é fundamental para produtores e demais agentes da cadeia produtiva.
Grãos: Soja firme com exportações recorde, Milho em queda e importações de Trigo crescem

Enquanto a soja brasileira mantém cotações sustentadas pela demanda externa e bate recorde de embarques em 2025, o milho enfrenta desvalorização com a safra recorde e a baixa demanda. Já o trigo registra aumento nas importações impulsionado pela oferta argentina.
Soja: preços firmes e exportações em ascensão
Os preços domésticos da soja seguem firmes na última semana, impulsionados pela maior demanda, especialmente do mercado externo. No entanto, a liquidez no mercado spot nacional continua lenta, com os agentes atentos a um possível acordo comercial entre China e Estados Unidos. Em maio, o Brasil exportou 14,09 milhões de toneladas de soja, um aumento de 4,9% em relação ao ano anterior, mas 7,7% abaixo do volume de abril. Na parcial de 2025 (até maio), os embarques atingiram um volume recorde de 51,52 milhões de toneladas, 2,7% acima do mesmo período de 2024.
Para o segundo semestre, os produtores demonstram interesse em negociar a oleaginosa, estimulados pelo maior prêmio de exportação e pela paridade de exportação mais atrativa.
Confira os valores da soja (12/06):
- Paranaguá: R$ 134,26
- Paraná: R$ 128,80
Milho: preços em queda com aumento da oferta e retração de compradores
Os preços do milho continuam em queda no Brasil, um movimento observado desde meados de abril. Essa desvalorização é atribuída à retração dos compradores, que esperam por novas baixas, justificados pelo aumento da oferta com o início da colheita da segunda safra e pelas limitações na capacidade de armazenagem. A Conab estima uma produção de 99,8 milhões de toneladas, 11% acima da safra anterior.
Além disso, as recentes quedas do dólar e dos preços externos diminuem a paridade de exportação, o que reforça a pressão sobre as cotações domésticas. Em maio, o volume de milho exportado pelo Brasil foi de apenas 39,92 mil toneladas, um número significativamente menor em comparação com as 413 mil toneladas registradas em maio de 2024.
- O valor do milho (12/06) é de R$ 67,64
Trigo: importações crescem e moinhos mantêm estoques elevados
As importações brasileiras de trigo continuam em crescimento em 2025, somando 3,092 milhões de toneladas até maio, o maior volume desde 2001. Nos últimos 12 meses, o país importou quase 7 milhões de toneladas, volume não visto há seis anos. Esse avanço se deve, em grande parte, à maior disponibilidade de trigo da Argentina nos últimos dois anos, que favoreceu as compras brasileiras.
Com esse fluxo de importações, os moinhos nacionais seguem com estoques satisfatórios, sem a necessidade de aquisições intensas neste período de entressafra brasileira. Os produtores, por sua vez, estão focados nas atividades de campo para a nova temporada. Em relação aos preços, as cotações do trigo em grão estão pressionadas desde abril, quando atingiram os maiores valores do ano, com a liquidez do mercado permanecendo baixa e negociações pontuais.
Confira os valores do trigo (12/06):
- Paraná: R$ 1.503,06
- Rio Grande do Sul: R$ 1.341,43
Perspectivas
O cenário do mercado de grãos no Brasil apresenta contrastes, com a soja em destaque devido à forte demanda externa e volumes recordes de exportação, o que deve continuar impulsionando as negociações. Em contrapartida, o milho enfrenta um período de ajustes com o aumento da oferta da segunda safra e a retração de compradores, indicando que a pressão sobre os preços pode persistir no curto prazo. Já o trigo, com o crescimento nas importações e estoques satisfatórios dos moinhos, aponta para um cenário de estabilidade nos preços internos, enquanto a atenção dos produtores se volta para a próxima safra.
Fatores que influenciam o mercado de grãos:
- Condições climáticas: Fatores como chuvas em excesso ou estiagens prolongadas, geadas e altas temperaturas afetam diretamente o desenvolvimento das lavouras, impactando a produtividade e a qualidade dos grãos. Eventos climáticos extremos em grandes regiões produtoras globais podem gerar volatilidade nos preços internacionais.
- Câmbio (taxa de juros): A variação da taxa de câmbio (Real frente ao Dólar) é crucial para as exportações e importações de grãos. Um dólar forte torna as commodities brasileiras mais baratas para compradores estrangeiros, impulsionando as vendas, enquanto um dólar fraco pode desestimular as exportações e encarecer os insumos importados.
- Demanda global e geopolítica: A demanda de países importadores, como a China, e acordos comerciais ou tensões geopolíticas (guerras, sanções) podem alterar significativamente os fluxos de comércio e os preços dos grãos no mercado internacional, refletindo-se nas cotações domésticas.
- Oferta e estoques globais: A produção total dos principais países produtores e os níveis de estoques mundiais de grãos são determinantes para a formação dos preços. Uma superprodução ou estoques elevados tendem a pressionar os preços para baixo, enquanto a escassez ou baixos estoques podem elevá-los.
- Políticas governamentais e subsídios: Incentivos agrícolas, políticas de armazenagem, subsídios à produção ou à exportação, e regulamentações ambientais ou comerciais impostas por governos podem distorcer o mercado, influenciando os custos de produção, a competitividade e os preços dos grãos.