
O mercado avícola brasileiro segue sob o impacto da influenza aviária, mais conhecida como gripe aviária, com os preços do frango vivo e da carne em declínio devido à elevada oferta e restrições às exportações. Em contrapartida, o setor de ovos demonstra uma reversão de tendência, com preços em alta impulsionados pela melhora da demanda no início do mês e um ajuste na oferta. Uma análise sobre a expectativa de recuperação do status sanitário do Brasil traz um fôlego para o futuro próximo.
Frango: excesso de oferta doméstica pressiona preços
A semana atual mantém a trajetória de queda nos preços do frango vivo e da carne em quase todas as regiões monitoradas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A principal causa é a oferta elevada da proteína no mercado doméstico, resultado direto das restrições às exportações brasileiras. Essas restrições foram impostas após a confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial em Montenegro (RS) no dia 15 de maio.
Apesar do aquecimento típico da demanda no início do mês, que costuma impulsionar as vendas, o cenário atual é de forte concorrência, inviabilizando qualquer ajuste positivo nas cotações da carne. Agentes consultados pelo Cepea relatam que a disponibilidade de carne de frango no mercado interno está acima da procura.

Na semana passada (30/05), o Cepea já apontava uma queda acentuada nos preços internos da carne de frango, com um fluxo mais intenso de produtos avícolas do Sul do país sendo realocados para o mercado doméstico. Naquele momento, a União Europeia e outros 24 países já haviam embargado a commodity de todo o território brasileiro, e outros 18 países haviam imposto restrições específicas ao produto gaúcho ou do município de Montenegro. O Sul, maior região produtora e exportadora de carne de frango do Brasil, sentiu o desequilíbrio entre oferta e demanda, agravado pela demanda doméstica enfraquecida no final do mês.
Ovos: demanda aquecida e ajuste na oferta elevam cotações
Após dois meses consecutivos de queda, os preços dos ovos vêm registrando alta neste início de junho na maioria das regiões acompanhadas pelo Cepea. Colaboradores do Centro de Pesquisas atribuem essa recuperação à virada do mês e à consequente melhora no poder de compra da população, que impulsionou a procura por ovos, um movimento típico desse período.
Além do aumento da demanda, a oferta de ovos, que esteve elevada ao longo de maio, agora se encontra mais ajustada, contribuindo para o cenário de valorização.


Na semana passada (30/05), o mercado de ovos encerrou maio com baixa liquidez e recuo nos preços em todas as regiões. O ritmo lento das vendas levou ao aumento dos estoques nas granjas e, consequentemente, à desvalorização da proteína. A expectativa já era de que a virada do mês trouxesse um aquecimento na demanda, além de relatos de descarte de poedeiras mais velhas em algumas regiões, o que ajudaria a controlar a oferta e sustentar os valores.
Perspectivas e o status sanitário
A grande notícia para a avicultura brasileira é a possibilidade de o país retomar o status de livre da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) a partir de 18 de junho, caso não haja novos registros de casos em granjas comerciais. Essa data marca 28 dias desde o controle do foco em Montenegro (RS), conforme o prazo estabelecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). A recuperação do status sanitário é crucial para a normalização das exportações de carne de frango e para aliviar a pressão sobre os preços domésticos.
Para o setor de ovos, a melhora na demanda no início do mês e o ajuste na oferta indicam um período de preços mais firmes, que deve se manter caso a recuperação econômica da população continue.
Fatores que influenciam o mercado da avicultura
- Sanidade animal: Surtos de doenças como a gripe aviária têm um impacto devastador, causando embargos comerciais, aumento da oferta doméstica e consequente queda dos preços.
- Custos de produção: O preço da ração (milho e farelo de soja) é o principal componente dos custos. Variações nessas commodities afetam diretamente a rentabilidade dos produtores de frango e ovos.
- Demanda interna e externa: O consumo de carne de frango e ovos no Brasil, somado à demanda de países importadores, determina a movimentação dos preços. Feriados e datas comemorativas costumam aquecer o consumo.
- Oferta global e concorrência: A produção de frango e ovos em outros países produtores, bem como a competitividade de outras proteínas (bovina e suína), influencia a dinâmica do mercado internacional e doméstico.
- Políticas governamentais e barreiras comerciais: Acordos sanitários, impostos, subsídios e restrições comerciais impostas por países importadores são fatores cruciais para o fluxo de exportações e, por sua vez, para o equilíbrio da oferta e demanda no mercado interno.
Aquicultura: estabilidade marca o setor na virada do mês

O mercado da tilápia no Brasil demonstrou notável estabilidade nos preços na virada de maio para junho, com a maioria das regiões produtoras registrando poucas variações. Análise do Cepea revela um cenário de manutenção nos valores, indicando um equilíbrio entre oferta e demanda no setor aquícola.
Na semana encerrada em 30 de maio, a região de Grandes Lagos manteve o preço em R$ 8,13 por quilo, o mesmo valor observado na semana anterior, em 23 de maio. A estabilidade também foi a tônica no Oeste do Paraná, que fixou o quilo da tilápia em R$ 7,43 nas duas semanas.
Pequenas oscilações foram registradas em outras importantes praças. Em Morada Nova de Minas, o preço recuou marginalmente de R$ 8,47 (23/05) para R$ 8,45 (30/05). Similarmente, o Norte do Paraná viu uma leve queda de R$ 8,65 para R$ 8,60 no mesmo período. Já no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, a variação foi mínima, com o preço passando de R$ 8,33 para R$ 8,31 por quilo.

A ausência de grandes flutuações nos preços sugere um período de previsibilidade para os produtores e comercializadores de tilápia, um dos principais produtos da aquicultura nacional. Essa estabilidade é um indicador positivo para a saúde econômica do setor, que tem se consolidado como uma importante fonte de proteína e renda no país.
Grãos: Soja estável, Milho em queda e Trigo pressionado por oferta global

O mercado de grãos no Brasil apresenta um cenário misto, com a soja oscilando em uma faixa estreita de preços, o milho em trajetória de queda e o trigo sob pressão devido à ampla oferta global e doméstica. Fatores como o ritmo de cultivo nos Estados Unidos, as tarifas comerciais e a expectativa de safras recordes estão moldando o comportamento dos preços.
Soja: preços estáveis em meio a variações globais
Ao longo de maio, os preços da soja mantiveram-se relativamente estáveis, com pequenas oscilações, segundo análise Cepea. Essas variações foram influenciadas pela oferta sul-americana, o ritmo de plantio da nova safra nos Estados Unidos e os impactos das tarifas comerciais norte-americanas sobre outros países, além das reações dos governos afetados.
Na última semana, as cotações da soja seguiram ligeiramente pressionadas, resultando em uma média mensal de maio abaixo da observada em abril. Apesar disso, as exportações de soja em grão continuam em ritmo acelerado.
Confira os valores da soja (05/06):
- Paranaguá: R$ 134,04
- Paraná: R$ 127,97
Milho: oferta crescente pressiona preços para baixo
Os preços do milho seguem em trajetória de queda no mercado doméstico, conforme análise do Cepea. Pesquisadores explicam que a oferta do cereal tem aumentado, e a expectativa é de que a disponibilidade se mantenha elevada nas próximas semanas, principalmente com o início da colheita da segunda safra.
Esse cenário tem tornado os vendedores mais flexíveis nas negociações, enquanto os compradores se afastam das aquisições, optando por volumes para o curto prazo. Apesar de notícias sobre a possibilidade de geadas em algumas regiões produtoras de milho terem oferecido um suporte temporário aos preços na semana passada, a perspectiva de ampla oferta no Brasil prevalece e mantém os valores em queda.
- O valor do milho (05/06) é de R$ 68,96
Trigo: queda de preços impulsionada por safra recorde
Em maio, os preços médios do trigo apresentaram queda, segundo análise Cepea. A pressão veio do avanço da semeadura no Brasil, da expectativa de uma safra recorde mundial e da projeção de produção argentina crescente.
De modo geral, o Cepea observou uma maior disparidade entre os valores ofertados por agentes ativos no mercado spot. As negociações de trigo foram lentas ao longo do mês, com compradores buscando apenas lotes pontuais e mantendo suas ofertas de preços abaixo do esperado pelos vendedores. Enquanto isso, os triticultores estiveram focados nos trabalhos de campo e cautelosos na disponibilização de novos lotes.
Confira os valores do trigo (05/06):
- Paraná: R$ 1.534,40
- Rio Grande do Sul: R$ 1.363,32
Perspectivas
O cenário para os grãos no Brasil continua a ser influenciado por uma combinação de fatores climáticos, dinâmicas de oferta e demanda globais, e políticas comerciais. A colheita da segunda safra de milho promete manter a pressão sobre os preços do cereal no curto prazo. Para a soja, a atenção se volta para o desenvolvimento da safra norte-americana e as tensões comerciais que podem trazer volatilidade. Já o trigo, com expectativas de recorde na produção global e recuperação argentina, deve seguir com preços pressionados, desafiando a rentabilidade dos produtores brasileiros.
Fatores que influenciam o mercado de grãos:
- Condições climáticas: Fatores como secas, geadas, excesso de chuvas e outros eventos climáticos extremos impactam diretamente a produção e, consequentemente, a oferta e os preços dos grãos.
- Oferta e demanda global: O equilíbrio entre a produção mundial e o consumo de grãos em diferentes países, especialmente grandes players como China, Estados Unidos e União Europeia, dita a direção dos preços.
- Variações cambiais: O valor do real frente a moedas como o dólar afeta a competitividade das exportações brasileiras de grãos e os custos de importação de insumos.
- Políticas governamentais e tarifas comerciais: Subsídios agrícolas, impostos sobre exportação/importação e acordos comerciais podem alterar significativamente as condições de mercado e os fluxos de comércio.
- Estoques globais: O nível dos estoques mundiais de grãos serve como um amortecedor para a volatilidade dos preços. Estoques baixos tendem a impulsionar os valores, enquanto estoques elevados os pressionam para baixo.